Friday, July 01, 2005

MAR ADENTRO de Alejandro Amenábar

Ramón Sampedro é um homem desconcertantemente inteligente e com sentido de humor que em virtude de um estúpido acidente no mar há 26 anos atrás, vê-se forçado a ficar preso a uma cama, da qual pretende sair pela única via possível, a estanásia.

A aposta de Amenábar num assunto tão polémico foi arriscada. Haverá certamente alguma discussão em torno deste filme, mas suponho que dificilmente poderá haver um documento a favor da eutanásia tão poderoso quanto "Mar Adentro".

Durante cinco anos, Sampedro luta para proteger a sua acção sob a lei espanhola, mas prevendo a inflexibilidade das autoridades judiciais protege igualmente a pessoa que eventualmente o ajudará na sua acção, de forma a que não seja possível condená-la.

A sua irredutível certeza constrata com o temor de todos que o cercam. O medo de aceitar a expressa vontade de Sampedro, ou de intervir para a concretizar, aparece associado à noção que amar é proteger a vida contra tudo. Este confronto de valores entre o egoísmo ou a generosidade é bem patente em todos aqueles que o rodeiam, inclusive na própria família.

O talento e magnetismo de Bardem enchem o ecrã, e esta é sem dúvida uma interpretação para ser relembrada por muito tempo. De salientar ainda o fantástico trabalho de caracterização, que acrescentou 21 aos seus 34 anos. O restante elenco cumpre igualmente bem o seu papel.

Tal como em “The Others”, a abordagem de Amenábar ao mundo psicológico é exímiar. Adicionalmente, a fotografia naturalista, a montagem metódica, a emotiva banda sonora e a mestria na direcção de actores tornam este filme imperdível.

Apesar do seu cariz tendencioso, "Mar Adentro" dará certamente azo às mais variadas reflexões, o que por si só já justifica uma ida ao cinema.

8/10

0bitaites:

Post a Comment

<< Home